Domvs Mvnicipalis.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Folhas rasgadas do Meu Livro.

Minita, sofrimento,
Anjo despedido no Além...
Laida, tormento,
Personagem de bondade em alguém,
Que quis tanto brilho no firmamento.

E a glória da minha felicidade
Que ficou aqui... em nada...
E as tristezas de tanta contrariedade,
Significam a história mal contada,
De um nascer, morrendo, sem idade.

Joantago

O Combóio de Mocuba.

Quando chegámos à Estação do combóio,
Eram vários os carros e a gente apinhada,
Que se concentravam para as despedidas...
Eram os abraços e os beijos num rodopio
E era o fim das férias da malta excitada...!

Mas o combóio, que abrandava nas subidas,
Enquanto saltávamos de carruagem em carruagem,
Sentindo a euforia das férias em ebulição...
Parecia querermos ganhar coragem,
Para suportar o internato da nossa frustração !

Joantago

No pó do meu passado.

Como eu adorava a mandioca ao pequeno almoço,
quentinha e barrada com manteiga e o amendoim melado,
ao lanche e todo aquele irremediável alvoroço,
quando algum aparecia com o crânio rachado,
duma pedrada à mangueira, com mangas doces como o mel...

Ainda tenho o sabor do peixe Pende, pescado no dia
e aquele pato bravo estufado, que à loja vinham vender...!
Recordo também o travo da morrada, quando comia
com o molho de peixe seco e a esteira onde me ia estender,
à sombra da palhota de uma amizade de qualquer lado...

Joantago

Um pouco "dos Chuabo"!

Vinte horas... sinto a música alta
no Cinema Chuabo, perto do Paulo Sexto.
Estou "aprisionado" neste Colégio
e não consigo estar com a malta,
pois não me ocorre nenhum pretexto,
que justifique cometer algum sacrilégio...
Não importa, sai um lençol da cama
e vamos deslizar até ao rés-do-chão,
antes que a padralhada dê conta...
Dá um filme do Elvis e alguém me chama,
para irmos até lá, ver o "machão",
cheio de garotas, que até espanta!
Vale a pena mais uma escapadela
e ainda mais longe, às Festas da Cidade,
a ver se os meus familiares não topam...
Epá, isto é que é alegria, nesta idade.
A aventura, as cores a música, vida bela
que só em Quelimane é que se encontram.
E o Carnaval do Benfica, que é o máximo?
Sem raças, nem religiões, toca a foliar...
Ele são velhos, são novos, são divertidos...
Bem, no regreso ao degredo, no mínimo
expulsam-nos e é mais um problema familiar...
o que havemos de fazer aos castigos infligidos?!
Só não tenho saudades da clausura,
porque Quelimane, terra da boa gente,
foi tudo isso e a Fae, que reuniu a Zambézia...
Se a vida era fácil ou era dura,
sou eu, neste preciso e sentido instante
que recordo feliz, tudo o que lá se fazia...!

Joantago

O Jacaré.

Está ali, uma almadia escondida
nos juncos do rio - está velha !
O jacaré, pachorrento, rasteja...
mergulha na água, pelo Sol aquecida
e já não olha o corvo, de esguelha...
adiou a refeição, de tanto que lhe sobeja.
O jacaré, vai nadando sem governo,
mas livre, porque já não é deputado...
a política, a sua, é a do mais forte !
Doce, meigo, aparenta ser terno,
sempre pronto para atacar um descuidado.
Há! já sei quem me ditou tal sorte !
Esperem! Já sinto mexer a almadia...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os Ricordaçau di Mocuba...

Jamilo dá os pica nos marrau
Guiná já estás os bêbido
E os côri deli está os de umbôlo
Igual qui di manambua;
Manguana vamos comer pulau,
Podi qui os intimua tem os ouvido,
Qui, afinal não és os lomwé, mas os macua.

Joantago

quinta-feira, 11 de março de 2010

Algumas Hienas...

Os restos da carcaça de uma gazela,
o seu odor, atraíram a hiena
que andava por perto e faminta;
Arrebitou as orelhas e concentrou nela
o faro e a intuição, para o seu banquete!

Impelida na deslocação saltitante,
vai direita, felina e investe,
numa reacção sobrevivente e distinta,
para se saciar, na porção tão pequena,
que lhe toca dos restantes necrófagos.

E a hiena geme, deliciada, da alternativa...
Pior é nada, quando se obtem algo sem esforço!
Tantas hienas, sem correrem perigos,
se consolam com um grande pedaço,
à custa do sangue e suor de quem tem iniciativa!

Joantago

terça-feira, 9 de março de 2010

Pontapé Livre.

Suponho que o facto de ninguém ter deixado alguma mensagem, terá a ver com a (minha) falta, por não dar um "primeiro passo":

Da piscina do Clube mocubense,
partia uma brisa estenuante
de uma morna apetência...
O silvo do combóio, vibrante,
acordava-me da letargia
de uma coisa sem interesse.

Lá longe, a queimada coloria,
no ocaso, uma paisagem fumarenta,
prenunciando a chuva que aconteceria
brevemente, cumprindo o ciclo...
Dançar, é preciso, talvêz marrabenta,
num contorcionismo que é aquilo!

Joantago