Domvs Mvnicipalis.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

À Minita, que se lembrou de mim...


Peço-te que esperes por mim desse lado?
Não sei mas penso que não me vou demorar,
Pois tenho o prazo curto, como os demais,
Sobre esta concessão, a que se chama vida.
Por cá vamo-nos permanentemente gastando
E eu, em mais um aniversário, estou a colaborar
Neste mentira inocente, mas consentida,
Que às vezes ignoramos, compensando
Sobre o que consumimos no passado.
Tenho-te as mesmas saudades de outrora
Que se acumulam com a tua ausência.
Se me sinto realizado, por essa circunstância?
Vale o conformismo que me acontece agora!

 
Joantago

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O Mainato.


Mainato engoma gravata p'ra mim
Que eu vai nos funeral de intimua
E não esquece deitar carvão nos ferro
Para estar bem quente e não distrai?
Voçê  está fazer mangonha  demais
E estraga gravata pá, eu já disse!
Agora vai lá fora e traz o camisa,
Aquele que tem os manga comprido;
Pega os calça que tem o vinco,
Também  os sapato de verniz que está junto?
Olha, onde que puseste os cinto
Que estava pendurado nos porta?
Pôra, será que estás bom dos cabeça
Com os  devagar que estás trabalhar?

(Este poema devolve-me o carinho pela figura do “Mainato”, que recordo com respeito, por ser uma profissão masculina do tempo dos ferros a carvão e que requeria certa eficácia)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O "Chico".


Tinha um macaco, o “chico”, que veio pequeno,

Ainda com idade de beber leite, pelo biberão…

Alguém o tinha apanhado no mato, tremendo,

Cheio de medo, indefeso e com um olhar de súplica!

Era parecido com muita gente, como eu, assim dizendo,

Qual humano, primata, mamífero e uma réplica

Do homo erecto, sapiens ou outro “palavrão”…!

Por vezes, catando-se, parecia mais ameno

Ao sabor de um raio de sol, mais quentinho

E quando chovia, retirava-se para o tambor vazio

Arrastando a corrente que o segurava ao tronco

Da imensa mangueira, do quintal traseiro.

O chico não achava muita piada ao espelho

Onde via reflectido, outro a ele igualzinho…

Guinchava, arfando nervoso e o olhar vermelho,

Congestionado, pulando junto ao canteiro

Até se lhe dar uma banana, que lhe sabia a pouco!

Qualquer carícia que recebia, saltava-me para o colo,

Num agradecimento sincero e o seu cativeiro,

Sempre considerei uma alternativa do destino,

Quase inevitável de vir a ser simples sustento

De outro ser qualquer, a quem servisse de consolo!

Um dia, soltou-se da corrente, para meu desalento,

Nunca mais vi o chico, ou dele soube notícias, fugiu…!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

VANGONO.


Sobre a minha vida, passa vangono.

A minha recordação acontece vangono.

As minhas, infância e adolescência eram vangono.

Vangono é quando vejo alguns amigos

E toda a gente para os reconhecer no facebook.

Vangono, sinto os meus anos agora!

Espero que o futuro venha vangono

E toda a incerteza do que vier a piorar…

Quando alguém tinha pressa, com stress,

Como se diz agora, o gente pedia: vangono.

No amor, quer-se docemente vangono.

Sempre que voltar a apagar mais uma vela,

No meu aniversário, vou formular um desejo,

Isso mesmo, nem mais, será vangono.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A Temba do Sacras.


A Temba do Sacras foi, digamos, um “santuário”,

Como alternativa de lazer e oportunidade;

Escape de necessidades fisiológicas e resignação,

Prazer fortuito de iniciação, da juventude masculina,

Como sinal de adolescência e machismo conveniente…

Contam-se histórias, rebusca-se na lembrança

E vem à memória um sorriso maroto do utente

Que passou “por lá” e ganhou confiança…

Significou dar largas ao imaginário

De quem cresceu na aventura e na tentação libertina;

«Que se lixe a popular e indiferente reputação!»

Era a tropa de uma guerra por requisitar

Que conseguia, in “extremis”, algum bem-estar,

No emaranhado de palhotas dispersas

De onde espreitava um ou outro rosto faminto!

População de origens longínquas e diversas

Davam gozo na procura do melhor do recinto!

Ao José Jorge Jordão Simões.


O Joca foi a Mocuba visitá-la, cumprindo

Uma viagem (naturalmente) programada…

Revisitou a nossa Terra, esteve com amigos,

Registou memórias e levou um pouco de nós,

Os que eram queridos, os menos conhecidos,

Os curiosos que nunca lá estiveram, mas que ouviram

Contar sobre a nossa naturalidade – o tal lugar!

Este mocubense que teve o privilégio de saber,

De conviver, de ouvir, de se dar conta do actual,

Foi ele que nos antecipou este propósito,

De se deslocar a Mocuba e a quem “delegámos”

A nossa saudade, com a manifestação dos votos

Que todos fizemos para que fosse bem-sucedido,

Sem duvidas de que seria bem recebido:

Se há algo de que não duvido, nem se poderá

Questionar é que Mocuba e os mocubenses

Sempre souberam receber – são hospitaleiros.

Um Abraço Joca e forte kanimambo moçambicano.

"Retornar" ao Convívio da Zambézia.


Após algumas horas de condução contínua,

Com o ruído do motor do automóvel soando,

Com a cabeça grávida de pensamentos dispersos,

Sobre a incógnita das surpresas, das lembranças,

Somos nós, gente estranha, nas mudanças

Da vida, no tempo que passou, com o sentido

De rever conhecimentos, num passado imersos!

Depois da auto-estrada, da estrada nacional

“Não sei quantos”, da municipal “qualquer coisa”,

Chegámos ao Convívio da Zambézia e afinal

Lá estava o Povo Zambeziano, em grupos unido,

Partilhando abraços e beijos de saudade.

A marrabenta soou, animou e fez suar a camisa,

Vibrando o corpo e o ritmo aconchegando.

Conversámos, recordámos e regressámos,

Esperando por uma próxima eventualidade

De nos juntarmos, “retornando” ao que deixámos!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A manga da minha recordação.

Eu, voava, voava, cortando o ar,
Por baixo daquela imensa mangueira,
Protegido pela sua sombra agradável,
Sentia o vento, cantante, a sibilar.
Ó saudade daquela criança admirável,
Sentada no baloiço, qual estrela a cintilar
 
E, lá no cimo, o fruto verde-alaranjado,
Cobiçava o meu olhar extasiado
E, na minha boca, dissolvia-se o paladar
Da polpa da manga, que não posso olvidar,
Por ser tão forte marca da minha infância,
A quem, de tão pequeno, deu tanta importância. 

Fruta do meu desejo, da minha selecção,
Que por vezes ainda vou saboreando;
Se ficou prazenteira, na minha recordação,
Muito mais, quando nela vou pensando...
Se esse sabor, tiver a própria vida,
Eu não sei, mas nunca será esquecida.

 
 

O Cajueiro.


Debaixo do cajueiro, de certa idade,

Atirei três pedras, para colher um fruto...

E foi tanta a destreza e pontaria

Que, sem ter essa mesma facilidade,

Eu, que podia assumir-me ares de bruto,

Pude finalmente saborear essa iguaria...!

 

 O caju caiu e eu corri para o apanhar.

Peguei nele e levei-o à boca, saboreando

Aquele suco que sabia tão bem, com o calor...!


 
 
Na minha demora, alguém estava a estranhar

E eu, um a um, sem parar, ia provando...

Ainda hoje, nos dias quentes, lembro esse sabor!

 
Levantando a cabeça, admirado, observava

Aquela árvore frondosa, qual candeeiro,

Majestosa e bonita, muito bem enfeitada...

Como poderei eu esquecer-me do Cajueiro,

Se nos dias de Verão, um copo de água gelada,

Não substitui o sumo do caju, de que tanto gostava ?!
 

 
Hoje, entretenho-me, no conforto do meu recanto,


A comer as castanhas e recorrendo à lembrança




De uma árvore, diferente de um supermercado;

E são tão importantes, os meus sonhos de criança,

Que eu diria convicto, que podia ser pecado,

Se algum dia, o cajueiro, perdesse o seu encanto !
 

 

 

 

 

 

Coquana pensa…




Debaixo da palmeira, agachado,

O velho, fuma o cigarro ao contrário.

Será suruma? Barbas de milho?

Pensativo, quieto, olhar parado,

Faz as contas do seu calvário…

Agora é avô, pai, mas já foi filho!

Não, a família ainda não reclamou!

Pelo menos, rapaz mais velho,

Não mandou ninguém ir embora…

Não adoeceu, nem sequer acamou,

Nem gasta muito tempo com espelho,

Nem motiana, disse que está na hora…!

Bem, coquana sim, maluco não.

Ele vai… não precisa empurrar…

Velho sabe quando está de sobra;

Não dá trabalho, não queixa, não vai chorar,

Pode segurar grande pau na mão,

Mas não, não vai matar cobra.

Velho, não quer dar problema;

Chateia pouco, não abusa da paciência,

Não desanima com dor de barriga…

Velho, um dia, talvez consiga,

Guardando toda a experiência,

Desfazer na vida, sem sentir pena.

Quando a chuva, amanhã, parar…

Quando o capim verde crescer…

Quando a quizumba chorar…

Aí sim, velho vai de vez no mato;

Nunca mais vai aparecer…

Não, velho, não quer ser chato.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Onde qui está?

Vamos no Licungo ver os água lamacento
Que traz enxurrada dos lágrima perdido;
Chora os mutiana depois de bébé desaparecido...
Foi o quê qui levou e para donde?
Este sofrimento eu já num guento,
Outro encontrei já fugido,
Mas, onde qui bébé si esconde?
Licungo diz-mi tu amigo,
Qui estou-ti falar com verdade,
Eli está mesmo escondido
Ou tu não respeitas agora meu idade?
Não precisas ti chatear comigo!